28 fevereiro 2011

A Percepção Inicial

A amplitude da percepção sensorial e emocional, quando vivencia-se pela primeria vez uma experiencia, é - literalmente - inigualável.

Ainda não há registros na memória de nada que seja equivalente. Talvez haja, no máximo, algo que se aproxime, que seja parecido em alguns parâmetros, alguns quesitos, mas a experiência integral, ainda não existe.

- A primeira ocasião em que se experimenta a embriaguez pelo álcool ou por qualquer outro elemento químico que altere a percepção.

- A primeira visualização de uma obra de arte, uma paisagem, uma ilusão de ótica, uma foto.

- A primeira apreensão espacial ao se estar em um lugar ou ambiente novo, com dimensões definidas ou apenas o horizonte como limite, a temperatura, os aromas, as cores e os detalhes.

- A primeira apreciação de um alimento, seu sabor único, aroma, textura e temperatura.

- O primeiro contato com aquele sentimento amoroso, poderoso, indescritível, capaz de preencher o corpo com uma plenitude e felicidade incomensurável, um sentimento de auto-entrega que ultrapassa de forma avassaladora as fronteiras do ego.

- A primeira descarga da adrenalina injetada na corrente sanguínea, decorrente da prática de um esporte radical, de uma surpresa ou susto.

- A primeria satisfação pela sensação de poderio, força de vontade e capacidade, por ter ultrapassado um obstáculo, vencido um desafio, concluído uma atividade, alcançado uma meta à muito tempo perseguida.

- A primeira risada ao ouvir uma boa piada, uma história cômica, uma atuação teatral insusitada, ou uma situação hilária.

Todas estas percepções, uma vez vivenciadas, são inseridas nos registros mentais, passam a fazer parte da memória, passíveis de consulta e reavivamento apenas pela lembrança...

Todas as realizações posteriores desta experiência podem se tornar tentativas de vivenciar novamente, da mesma maneira, como se fosse a primeria vez, com todas as mesmas apreensões iniciais, únicas, prazerosas, incomparáveis.

Sucumbe-se à armadilha, constitui-se o vício.